domingo, 6 de novembro de 2011

Entrevista aos 90 anos do Monsenhor José Carneiro Pinto

Na data de 20 de outubro de 1921, na cidade de Itajubá, nascia José Carneiro Pinto, filho de Victor de Souza Pinto e Maria Carneiro Pinto. Seu despertar religioso foi impulsionado pelo tio, Cônego Adolfo, quando ajudava como coroinha nas missas. Este mês o Monsenhor completa noventa anos de idade, com sessenta e cinco anos de vida dedicada ao sacerdócio. Quarenta anos pároco de Santa Rita de Cássia, hoje pároco emérito de Santa Rita do Sapucaí.
Em entrevista comemorativa aos 90 anos de vida do Monsenhor José Carneiro Pinto, ele contou um pouco de suas histórias, suas andaças e amigos que fazem parte de sua trajetória.

Jornalista Éverton: Depois de ter feito vários casamentos, batizados, procissões e confissões, visita a doentes, o senhor tem o sentimento de missão concluída?
Monsenhor José: Tenho a alegria de ter feito tudo isso e peço a Deus de ter condições para continuar fazendo.
Jornalista: O senhor nasceu em Itajubá e nunca trabalhou como pároco na cidade natal? Foi uma opção?
Monsenhor: Não. Porque meus pais moravam em Itajubá e quando eu estava com dois anos de idade, mudamos para Santa Rita do Sapucaí e não tive oportunidade de morar lá e nem exercer minha vocação em Itajubá.
Jornalista: Como foi a luta para a vinda da relíquia para o Santuário de Santa Rita de Cássia e o que ela hoje representa para o senhor e para a cidade de Santa Rita do Sapucaí?
Monsenhor: A imagem cópia, foi pedida em cera, pois como Santa Rita não foi enterrada, sendo sua morte há 630 anos e que hoje está mumificada, pedimos aos Padres Redentoristas, em Roma. A fábrica avisou de que com o tempo a cera iria deteriorar, então pedimos em madeira. A relíquia foi tirada do pedaço do osso do pé de Santa Rita, que pela decorrência de um incêndio na urna, tiraram o pedaço desse osso. É difícil de conseguir tal relíquia e isto foi um marco para a Igreja de Santa Rita. A autorização para que conseguissemos esta relíquia foi emanada da Itália, com os Padre Agostinianos, tivemos que tirar uma licença, que se chama Autêntica e está escrito em latim. E as Irmãs Agostinianas exigem de que não pode ser vendida e nem doada, significando a autenticidade da relíquia. Entretanto, esta relíquia é um tesouro para nossa comunidade.
Jornalista: Soube que o senhor tinha um famoso fusca verde, o senhor ainda o tem e que lembranças ele te traz?
Monsenhor: Hoje não tenho mais o fusca verde, pois ele pertencia à paróquia e quando o Padre Bino foi pároco ele vendeu. Mas durante 30 anos andei no fusca por todos os lugares, ele me ajudou muito nos serviços. Tenho boas lembranças.
Jornalista: Na Escola Municipal Monsenhor José Carneiro Pinto, no Distrito dos Costas, ao qual o senhor dá o nome, ocorreu uma mobilização da comunidade, pela lei que só poderiam ser homenageados figuras já falecidas, mas mesmo assim a comunidade conseguiu a continuação do nome do senhor. O senhor sabe deste fato e ainda hoje sente o carinho dos moradores do local?
Padre José e Sinhá Moreira na inauguração da ETE
Monsenhor: Sei e muito! Porque naquele lugar foi eu que levantei. Só tinha uma capela e mais nada. Em 1948, fiz uma uma festa e agitei o povo para fazer uma igreja. Um vereador de Paraisópolis deu o terreno para fazer a Igreja e a praça. E a prefeitura fez a escola e o vereador fez questão de colocar o meu nome. Antes chamava-se Escola Municipal Padre José Carneiro Pinto e quando ganhei o título de Monsenhor, fizeram o decreto para a escola também alterando para Escola Municipal Monsenhor José Carneiro Pinto.
Jornalista: Qual é a sensação do reconhecimento por onde passou e receber diversas homenagens em escolas, faculdades, como a medalha Desembargador Hélio Costa?
Monsenhor: Foi uma distinção muito grande que fizeram comigo e acharam que eu deveria receber esta homenagem. Isso entre muitas que também já recebi. E fico muito contente pelo trabalho realizado nesta paróquia.  
Jornalista: O senhor esteve ao lado de Sinhá Moreira na Fundação da Escola Técnica de Eletrônica (ETE), participou da criação da FAI (Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação) e hoje é presidente da Fundação Educandário Santarrintense, isso mostra que mesmo cheio de afazeres, a vontade é maior em poder ajudar a modificar a realidade da nossa região?
Monsenhor: Eu e Dª Sinhá começamos com a Escola de Fátima, e metade da escola era de crianças carentes. Irmãs vieram ajudar nesta escola. Dª Santinha foi diretora por muitos anos. A ideia desta escola era que naquela época só os ricos estudavam fora e as crianças carentes não tinham condições e por isso trouxemos o estudo para esta cidade para ajudar na educação. Depois surgiu a Escola do Comércio. Logo conseguimos a FAI. A paróquia juntamente com os professores Antônio Teixeira e Francisco Magalhães, fomos no Getúlio Vargas e pedimos para fundar uma escola de Administração, e Getúlio aprovou o projeto e ofereceram por 2 anos professores de outras cidades para educar o povo santarritense. Padre Ramon que veio trabalhar na ETE, era padre jesuíta, trouxe o Curso de Informática para a FAI. E esta foi a vontade de criar estudos para o povo de Santa Rita. Pois como era difícil estudar fora, com ajuda de um e de outro, conseguimos as escolas e temos até hoje que está crescendo a cada dia mais.
Jornalista: O senhor já passou por diversas cidades e hoje está novamente em Santa Rita, tem algum lugar que queria ter sido pároco?
Monsenhor: Trabalhei em Pouso Alegre por um ano, como Vigário da Catedral, em 1947. E no mesmo ano, fui professor no Seminário e Vigário Administrativo em Congonhal. Minhas idas em Congonhal era à cavalo, porque naquele época não tinha transporte como hoje. Em 1948, fui Vigário Paroquial em Paraisópolis e Vigário Administrativo em Consolação e Gonçalves. 1952 fui Vigário Administrativo em Conceição dos Ouros e Vigário em Brasópolis por seis meses. Em 1953, vim para Santa Rita do Sapucaí e fiquei 40 anos como Pároco e hoje sou Pároco Emérito. Nunca pensei em ir para outro lugar e gosto muito daqui. Pois aqui exerci toda a minha vocação e tenho um carinho muito grande por esta cidade.


[matéria que será publicada no Jornal Hora & Vez de Paraisópolis]

Monsenhor José Carneiro Pinto